19 Maio | SÁBADO | 21h30
Local: Teatro da Politécnica
VOSCH-VUSCH, um bosque em marcha
Processo Criativo
Ver Macbeth como uma peça… de roupa.
Macbeth é mais uma obra de Shakespeare que aborda o tema do poder e as suas consequências no género humano. O dramaturgo inglês revela-nos Macbeth, tal como fez com Hamlet ou Titus Andronicus, por fora e por dentro, dos gestos aos pensamentos mais íntimos, para que observemos, enquanto espectadores ou leitores, a evolução de uma doença que se chama poder, que corrói, em pouco tempo, o corpo e a mente.
Nesta primeira fase, procurei aprofundar outras perspectivas dramatúrgicas, que pudessem servir o trabalho corporal e cénico da Joana e da Catarina com o grupo. O uso do verbo “servir” não significa, aqui, subserviência ou bajulação, mas sim “vestir bem”. O poder, como uma roupa que se veste, é uma metáfora presente em quase todo o espectáculo. A roupa dá estatuto, forma e corpo a cada personagem. Podemos imaginar Macbeth de camisa branca. Uma camisa, que vai sendo manchada pelo sangue das vítimas assassinadas. Manchas que não saem, nódoas, que por mais que se lavem, não desaparecem e, muitas vezes, até se espalham para outras roupas.
Psicologicamente, Macbeth é como uma peça de roupa dentro de uma máquina de lavar. Para acentuar essa ideia, despimos a narrativa da sua habitual estrutura (princípio, meio, fim) e substituímo-la por programas que pudessem lavar e centrifugar a personagem, na tentativa de a tornar mais limpa, aos olhos do público. Porém, as manchas estão demasiado impregnadas no tecido da consciência e, como o sangue é uma nódoa difícil de remover, a loucura instala-se, proporcionando a mais bela imagem deste texto: um bosque que anda e avança em direcção ao tirano.
É o homem em contraponto com a natureza, que Shakespeare quer ver em confronto. O homem que necessita de mostrar a sua presença através da acção, em oposição à imobilidade da natureza que só precisa de estar. Quando Macbeth diz: Se a sorte me quer rei, há-de coroar-me sem que eu me mexa, vemos Shakespeare a brincar às verdades universais, que nunca são respeitadas pelos homens, por mais séculos que passem. Macbeth mexeu-se, tal como Muammar Kadhafi ou Bashar al-Assad.
Hélder Wasterlain
PS – Caro leitor, consigo ver daqui uma nódoa na sua camisa.