18 Maio | SEXTA | 21h30
Local: Teatro da Politécnica
Un Novo Mundo Feliz

Processo Criativo
As aulas do grupo Maricastaña começaram no final de Outubro com um pequeno seminário sobre afinação, trabalho de precisão corporal e concentração, e o projecto começou em Novembro. Desde o primeiro dia que temos um guião com pistas de actuação, uma viagem por toda a peça. Os actores passam por situações que são levantadas ao longo da obra, todos variam de personagens para fazer uma "colagem" que os introduz, através da improvisação direccionada no universo de Mundo Feliz. Com vozes, estímulos sonoros, surpresas tácteis ou visuais, as personagens percorrem todo o espectáculo, que se divide como um quebra-cabeças ao longo dos ensaios e que essas personagens irão recompor. Os ensaios iniciais têm uma primeira parte de trabalho corporal e de voz (uma procura da tonicidade física para que o actor se solte). Também existe trabalho de coesão entre o grupo, porque há actores que nunca trabalharam juntos e isso altera-se através do planeamento de jogos em que há emoção, exploração dos sentidos, contacto físico e sintonia mental.
A segunda parte destes primeiros ensaios (que ocorreu nos meses de Novembro e Dezembro) consistiu em improvisações com recurso a pistas sobre o conhecimento e necessidades das personagens, os paralelismos entre o que a peça pretende e as questões que nos comovem para trazer ao palco uma obra alheia a nós mesmos, para senti-la como própria, para interiorizar o discurso. Neste caso, trabalhámos o tema da sociedade perfeita, com as mudanças de valores entre a nossa sociedade e a que se apresenta no mundo feliz ou na reserva, jogámos com a “hipnopedia”, com o condicionamento, com a repressão brutal e subtil, foram jogos de reflexão sobre o chamado progresso e aquilo a que ele nos leva, estímulos para conseguir certas emoções a partir da música ou de imagens, um equilíbrio entre a verdade cénica e o controlo das emoções planeadas pela peça, o ritmo externo e interno, o que se pode mostrar (e o que não pode) aos outros. Introduzimos, ao mesmo tempo, aspectos da convenção teatral de Meyerhold: a falta de adereços e como o gesto é simbólico ao mesmo tempo que mostra ao espectador que é convenção, o facto de se ver como os actores mudam de roupa faz-nos perceber que estamos a fazer teatro e que é aí acontece esta história que nós planeámos.
Esta parte do processo foi de dramaturgia recíproca. Planeou-se, desde então, as respostas e as situações, o esquema com o qual iríamos trabalhar, os actores contribuíram, com o seu corpo e voz, para a vida e energia necessária para se criar os traços da dramaturgia definitiva. Estávamos, nessa altura, perto do Natal.
Com o novo ano, em Janeiro, começou a nova fase de testes que se prolongou até à estreia, em Março: o texto definitivo, o espaço possível, o ritmo, o conceito geral da peça, o trabalho por cenas, a mistura do actor com a música e, posteriormente, com a luz, a montagem. Tudo vai tomando corpo, as peças do quebra-cabeças recompõem-se neste trabalho complexo, porque a semente já tinha sido plantada com os ensaios anteriores. A montagem é um corpo vivo e inconstante, como cada espaço a que chegamos. É uma montagem que não termina nunca e que varia segundo o destinatário e o local.
Fernando Dacosta

Agradecimentos da Aula de Teatro Universitária Maricastaña
Aos nossos amigos e companheiros portugueses, que sempre nos incentivaram: ao FATAL de Lisboa, por nos questionar sobre o regresso a um teatro de compromisso social, e ao TeatrUbi, por ser um grupo "irmão" que nos orienta.
Aos que lutam incansavelmente pela liberdade.
Aos que acreditam num mundo melhor e que lutam pela justiça.