7 Maio | SEGUNDA | 21h30
Local: Teatro da Politécnica
Judas

Processo Criativo
Não é fácil pôr em palavras, o que vai acontecendo ao longo do tempo em que se trabalha visando a criação de um objecto artístico. Até porque quando o trabalhamos, na maior parte das vezes, nem nos apercebemos muito bem que implicações tem o que estamos a fazer, que escolhas nos fizeram chegar até ali, que escolhas ainda teremos de fazer, se estamos a fazer as escolhas certas, se é que existem escolhas certas. Quando o objecto está finalizado, aí talvez se olhe para trás e se tenha uma vaga noção que talvez se tenha feito um percurso, mas que percurso foi esse?
Coisas práticas: tínhamos de ter um espectáculo pronto no final de Março, respondendo a mais um terno convite do Ciclo de Teatro da Beira Interior. Pensámos em outro texto, em outro espectáculo, e começámos a trabalhar nele, mas por uma série de razões a nossa escolha estava a levantar-nos problemas. Nessa altura tive contacto com o texto de António Patrício, através do professor Armando Nascimento Rosa, e logo pensei que um dia iria montar um espectáculo a partir dele, era inevitável, não esperava é que fosse tão cedo.
Questões logísticas obrigaram-nos a adiar a nossa primeira escolha, e, de repente, Judas pareceu-nos a melhor solução para trabalharmos. Gosto quando não temos de escolher, quando as nossas escolhas ficam condicionadas, quando factores externos determinam o nosso rumo. Foi o que aconteceu.
Tínhamos em mãos um texto muito particular, breve, bonito. A questão era como criar um espectáculo a partir dele?
Ele, o texto, tem uma musicalidade muito própria, uma enorme riqueza poética e dramática. Como aproveitar isso, sem ser reverentes, mas respeitando a obra de partida: o único objecto artístico já testado? O Teatro-Música pareceu-nos a melhor abordagem artística ao texto. Tomaram-se opções de elenco, opções de metodologia de trabalho. Depois foi trabalhar, trabalhar, trabalhar… Com dúvidas, com certezas, com vontade.
A. Branco