11 Maio | SEXTA | 21h30
Local: Teatro da Politécnica
A Espera

Processo Criativo
A ideia era antiga e foi adiada várias vezes: criar uma peça de teatro a partir do livro de contos de Gabriel García Márquez, Olhos de Cão Azul. Tomamos a decisão de, de uma vez por todas, assumir o desafio e começar a construção da dramaturgia. Como? Fazer uma transposição directa dos contos de Márquez era impossível, por inúmeras razões e, rescrever o livro, impensável, por muitas mais.
Não foi necessário muito tempo para percebermos que o método de trabalho e de construção deste espectáculo seria muito semelhante ao de Recuperados (2009), e de ALAN (2010). Ou seja, mostrar aos actores o ponto de partida, os contos e pedir-lhes que servissem de filtro às palavras e personagens de Gabriel García Márquez.
Lido o livro, retidas as ideias, os ambientes e as histórias daquelas pessoas, os actores foram submetidos a semanas de exercícios de absoluto improviso; exercícios sem regras e sem condicionantes, ousem tempo limite determinado, exercícios de grande intensidade física e mental e onde os sentidos se transformam em ferramentas de criação.
É nesta fase, no TUP, que aquilo em que mais acreditamos, enquanto método de trabalho, é introduzido: a verdade de cada um dos actores, quer através dos textos que escrevem no final de cada exercício, quer nas memórias e histórias e experiências com que pintam o que dizem e fazem. Os textos de García Márquez passaram a ser os textos das vidas dos actores: reais, dolorosamente verdadeiros, filtrados pela voz de cada um deles.
No TUP, não acreditamos no “fazer de conta” leviano. Se o teatro é fazer de conta e, contra isso não podemos nada, então fazemos de conta, mas com uma forte base de verdade. E esta regra é aplicada não só ao trabalho do actor, como foi acima explicado, mas também ao trabalho de luz, som e cenografia. Todos os intervenientes leram os contos de Gabriel García Márquez e todos assistiram a semanas de ensaios, e foram, ao mesmo tempo, espectadores e criadores, ou seja, deixaram-se comover pelo trabalho dos actores, para em seguida, aquecidos pelas histórias que viram, poderem dar-lhes som, luz e cenário.
Por essa razão, este espectáculo é um objecto em que todas as partes estão intimamente ligadas. Porque foi construído de raiz, por todos, de igual modo, com a mesma verdade, num só sentido.